Por que tradução é uma estiva?
Tradução é uma estiva, acho que quem falou foi o Ivan Lessa, no Pasquim, no tempo da máquina de escrever — e era verdade. Podia ser fácil ou difícil, não importava. Tinha que bater aquilo tudo na máquina de escrever, letra após letra, página após página. Havia ainda os números, uma desgraça para quem traduzia finanças, como eu. O corpo ficava moído: doía perna, doía braço, doíam costas, doía tudo. Além disso, sempre faltava um parágrafo no meio e a gente tinha que montar com tesoura e cola. Depois, era revisar, mexer e remexer, até ficar bom. Dava dó, a sujeira que ficava. Precisava passar a limpo. Às vezes, quem passava a limpo era a secretária do cliente. Outras vezes uma datilógrafa autônoma. De um jeito ou de outro, tinha que revisar a datilografia e devolver para fazer as emendas. Um tempão para datilografar, um trabalhão para revisar, às vezes um dinheirão de datilografia — e o serviço era urgente. Muito disso acabaria se eu usasse um micro. Por exemplo, poderia mexer e remexer e...