Como virei tradutor

Deixa contar como virei tradutor.

Estava descendo a escada da Fisk da rua Francisca Miquelina, em São Paulo, depois de dar mais uma aula de duas horas, quando o Lima, que era secretário da escola, me chamou:

— Danilo, quer fazer umas traduções?

Ora, depois de um retumbante fracasso como dono de escola em Porto Alegre, eu estava na miséria, morando de favor na casa do meu sogro, que não ia com a minha cara. Humilhação maior, é difícil haver.

Naquele tempo, 1970, não se entendia tradução como profissão. Era, simplesmente, alguma coisa que quem pensava que sabia uma língua estrangeira fazia, nas horas vagas, para ganhar uns trocados.

À medida que o Lima ia me explicando as condições, meu interesse pelo encargo crescia: eram quatro horas por dia, cinco dias por semana, sem janelas. O pagamento era pela taxa de aula externa, ou seja, 50% a mais do que as aulas internas. Qualquer pessoa que tenha trabalhado em escola de inglês sabe o que isso significava.

No outro dia, às oito da manhã, devidamente engravatado, me apresentei no escritório da falecida Arthur Andersen, na Rua Direita 250, 18º andar. Lá, me deram um Dictaphone, que não passava de um gravador metido a besta e um livro para traduzir.

E, assim, virei tradutor.

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