Tradução juramentada

 

O DREI (Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração) determinou que as Juntas Comerciais nomeiem TPIC (Tradutor Público e Intérprete Comercial) a quem tiver atingido o C2, que é um nível de proficiência em uma língua estrangeira, conforme o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (CEFR), sem que tenham prestado o concurso que, de tempos em tempos, as Juntas Comerciais de cada estado promovem ou, ao menos, deveriam promover.

Os concursos sempre foram realizados a intervalos excessivamente largos. Para ter uma ideia, no Estado de São Paulo, o último concurso foi em 1999. Nos outros estados, a situação não é muito melhor. Em alguns estados, jamais houve concurso e existe uma lista de “tradutores nomeados ad hoc” que, para não dizer coisa pior, vai levando.

Há muita gente que pode —ou acha que pode — ser TPIC e se sente prejudicada. Muitos deles acham que jorra serviço para os TPICS e que todos eles estão estourando de tanto ganhar dinheiro. Na verdade, alguns ganham bastante bem, mas é necessário dar um duro danado para montar uma carteira de clientes. Além disso, agora que não há mais tabelas, não se ganha tanto assim, principalmente levando em conta que uma tradução juramentada toma mais tempo do que uma tradução não juramentada do mesmo tamanho. E, creia-me, aparece cada coisa que dá medo. Mas, enfim, tem uma turma que reclama. Sempre tem, claro.

Por outro lado, a determinação não atenta para um fato de importância capital: o nível C2 diz que a pessoa tem um excelente domínio de uma língua estrangeira, mas não leva em conta que esse domínio é só o primeiro pé do tripé sobre que se assenta a tradução. O segundo é o domínio do português — e os veteranos como eu estão cansados de ver traduções com erros crassos de português, feitas por gente que se esmerou em aprender uma língua estrangeira, mas se esqueceu da própria, ou por estrangeiros que têm um domínio restrito da nossa língua. O terceiro é o domínio das técnicas de tradução e este mundo está cheio de gente que domina duas línguas, mas não consegue traduzir direito. Os concursos para TPIC avaliam os três pés.

O melhor, o mais certo, seria promover concursos federais a intervalos menores, algo que, entre outras coisas, livraria as Juntas Comerciais dos estados menores de um encargo de que dificilmente podem dar conta, mas parece que o governo não se dá conta disso.

Diga-se de passagem, que eu nunca prestei concurso nem fui bagrinho de juramentado, além do que, não trabalho mais, quer dizer, não estou falando em causa própria.

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Comentários

  1. Vi uma prova de concurso (uma versão e um tradução de uma página cada) e francamente não creio que avalie nada. Lembrando que o "I" de TPIC é interpretação, no concurso, pelo que sei, não há prova oral. No C2 tem prova oral.

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  2. No concurso há prova oral e tem muita gente, mas muita gente mesmo, que é reprovada nas provas escritas — que são de tradução e versão.

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