Essa coisa de versão

Quando eu comecei, em 1970, ninguém me disse que, sendo brasileiro, não deveria me meter a traduzir para o inglês. Então, muito metido, fui e traduzi. 

Saiu uma porcaria. Meu chefe — porque eu ainda tinha emprego, naquela época — disse que meu inglês era macarrônico. E era. E o pior é que eu não sabia como desmacarronizar meu inglês. Minha gramática era muito boa (ainda é) e o vocabulário, num texto altamente técnico, era perfeito. Mas estava ruim. Muito ruim. Credo, São Jerônimo!

Como a gramática estava correta e as escolhas terminológicas estavam acertadas, não havia, realmente, como dizer porque meu inglês estava ruim. Não era um caso de corrigir um “she don’t” ou coisa pior ou emendar um “active” quando se tratava de “assets”. Coisa assim. Era coisa que não se encontrava nos livros.

Na verdade, eu até que não escrevia mal em inglês. Mas minha tradução para o inglês é que era péssima.  Foi depois de ter feito essa observação, que eu comecei a melhorar. Descobri que, para traduzir bem, não bastava conhecer bem a língua de chegada: era importante aprender a se livrar da contaminação, quer dizer, da influência da língua de partida sobre a língua de chegada.

Comecei a me dar conta, por exemplo, de que o inglês diz com verbos muita coisa que o português diz com substantivos. Um exemplo clássico é o vulcão entrou em erupção que pode ser traduzido para o inglês the volcano entered into eruption, que até poderia ser uma tradução decente, só que ninguém diz uma coisa dessas em inglês. Hoje, até o Google Tradutor sabe que a tradução correta é the volcano erupted. Houve outras descobertas e, embora meu inglês nunca chegasse a ser perfeito, atingiu um grau de qualidade que satisfazia até alguns clientes anglófonos.

Espero que você goste desta postagem. Se houver interesse suficiente, até continuo minhas aventuras de "versor".

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